Anacoluto: caffeine for the mind, pizza for the body, sushi for the soul.

"We're not, as some people maintain, obsessed with pop culture so much as we're obsessed with its possibilities for stratification and dateability." (Thurston Moore)

19.11.02

Há uns dois anos, escrevi um altissonante e agressivo "Manifesto Anti-blog". Não tenho mais o texto original, mas lembro relativamente bem dos argumentos principais que eu apresentava. A facilidade de publicar levava necessáriamente a um conteúdo raso, tolo, do tipo "sábado à noite beijei a fulana". Acho que dois anos atrás, eu ainda tinha alguma esperança na Internet, e me parecia realmente desnecessário levar quilos de lixo pessoal para consumo público.

Há qualquer coisa de muito significativo, em termos de produção cultural, na infinita redistribuição dos detalhes mais bobinhos da nossa vida pessoal pela Internet. Uma distopia orwelliana ao contrário. O fato é que eu fiz um manifesto, fiz campanha, talvez tenha até levado alguém que na época era amigo a desistir de escrever o blog que ele tinha pra dizer de vez em quando como odiava a própria vida.

Long story short.Mudei a minha vida, mudei o meu ambiente, deixei a faculdade de cinema para trás como um mundo em que todos são ou se tornam chacais famintos, mesquinhos, ruins, egoístas e falsos. E de certa forma rompi com todo mundo daquela época. Tive, sim - não sei se ainda tenho, se continuarei - um projeto alternativo a um blog que era um zine por e-mail para aquelas pessoas do passado na City. Tentei, também, um site, com fundo vermelho, um logotipo interessante, e vários inícios de textos que nunca se acabaram porque eu passava tempo demais definindo categorias, fazendo pesquisa e reflexão, e nunca acabava de fazer nada. Era grande demais para os meus recursos de tempo, preparação e paciência.

Foi uma época de transição estranha, mas finalmente passou, e a CT - aquele emailzine de circulação restrita - esvaziou-se. E há um número de pessoas do meu novo mundo que servem como público-alvo para um novo projeto, mais informal, mais solto, mais ad hoc num sentido hayekiano da coisa. Não estudo mais cinema, não sou mais o lumpen-intelectual subversivo dos tempos do IACS, e como estudante de economia, nem tenho sido tão brilhante assim.

E ainda assim, I've got an angry inch. Vontade de fazer muita coisa e dizer muita coisa. O formato do blog me permite ser menos metódico, e isso ajuda muito. O meu livro sobre o Nine Inch Nails se perdeu num ensaio sobre objetivos e limites da crítica de rock, mas eu posso falar de música de forma simples e espontânea no blog.

E, lição número um sobre o mundo de Diego Navarro, ele é obcecado por música. E coletâneas. Coletâneas são uma forma de arte.

Enquanto digitava esta pequena introdução, passaram pelo aleatório do player de "Dancing with the moonlight knight", do Genesis (de onde sai a citação do título), "Mon mec à moi", da Patricia Kaas (chanson francesa brega with a revenge), "Maybellene", do Chuck Berry, "Angry Inch", do filme "Hedwig", e está tocando agora "Close to the Edge" do Yes.

Visto de fora, o ecletismo me parece uma desculpa ruim pra não ter gosto específico nenhum. Gostaria de ser mais radical com algum gênero, mas as coisas que ouço acabam sendo tão espalhadas no espectro quanto todas as minhas outras preocupações. E bem, como introdução, isso está bom o suficiente.