Anacoluto: caffeine for the mind, pizza for the body, sushi for the soul.

"We're not, as some people maintain, obsessed with pop culture so much as we're obsessed with its possibilities for stratification and dateability." (Thurston Moore)

20.4.03

Os porquês

Para os de pouca visão, eu sou um tipo pretensioso, um pouco pedante, com mais superfície do que substância. Os mais espertos reconhecem em mim o herói trágico, inflamado de hybris, que tenta realizações além de sua capacidade e cai derrotado pela força dos obstáculos.

A verdade é mais simples: eu sou um pouco imediatista, e movido a excitação intelectual. Há uma indelével camada de cultura que me impede de apreciar as coisas babacas da vida, como churrascos que são desculpa para beber álcool de modo a ter coragem de fazer ridículas investidas pseudoromânticas em desconhecidas. Não que eu não goste de beber, entre amigos e amigas: não há nada tão liberador quanto aquele momento de verdade sem filtros.

É essa minha segunda pele que faz com que eu não aprecie a aurea mediocritas do pagode-cerveja-mulheres. É uma pena, porque gosto de mulheres. O ponto é que as formas tradicionais de excitação e alegria fáceis não fazem nada por mim, e eu sou impelido a buscar formas mais sofisticadas de excitação e alegria - para as quais nunca sei se sou feito de matéria densa o suficiente.

É uma relação custo-benefício complicada, mas eu adquiri esse vício. O pior é que não tenho a vocação ascética dos grandes gênios. No fim, fico perseguindo uma espécie comum de humanismo total (matemática, antropologia, música, literatura) não por uma estranha razão ética de pairar acima dos comuns (e creio ter derivado pela lógica a ética usual do don't-hurt-be-nice-help-those-in-need), mas por uma forma distorcida e contrita de hedonismo. Isso faz com que eu seja fundamentalmente diferente tanto do Cláudio como da Kinha.

Nada é fácil de entender.