Anacoluto: caffeine for the mind, pizza for the body, sushi for the soul.

"We're not, as some people maintain, obsessed with pop culture so much as we're obsessed with its possibilities for stratification and dateability." (Thurston Moore)

20.11.02

Dois desenhos originais do Cartoon Network que me fascinam. "Coragem, o cão covarde" (perro maricón, no dizer da minha mãe), e "Sheep na Cidade Grande". Unidos pela sitar. Em "Coragem", é a velha (não lembro o nome dela, só o do velho, que é Eustáquio), que em um episódio é inclusive convidada a se apresentar para um show, e fica sem saber que foi tomada como refém por uma abelha gigante para forçar o cão Coragem a ir buscar o Pacote.

Em "Sheep na cidade grande", é um hippie sentado numa esquina que toca a sitar, e às vezes narra as aventuras da ovelha em uma canção. Sheep é um seriado bastante sofisticado, e reincorpora de forma pós-modernosa, sem as tentações da sátira, os tótens narrativos dos desenhos infantis. Sheep vive pela filosofia "Coisa de Hoje do Cartoon Network" (mais sobre isso outro dia), anda pelas ruas meio que sem saber que o General Específico (um desses trocadilhos que se perdem na tradução e ficam sendo coisas enigmáticas, General Specific) conspira contra ele. O General Específico tem uma máquina de guerra movida a carneiro. Sim, o combustível da máquina de guerra do General Específico é carneiro.

O mais divertido de "Sheep" é o locutor, que narra constantemente a história, e às vezes interrompe para intervalos comerciais bizarros de coisas inúteis. É delicioso.

Ainda no capítulo TV, dois quiz shows que são mais ou menos a mesma coisa que os quiz shows tradicionais, e ao mesmo tempo têm textura dramática diferente, se desenrolam de forma diferente. O clássico é "Saber y ganar", da TVE espanhola. Absurdamente difícil. Lembro da época de escola, quando eu e meu only friend Ricardo Hazan (que hoje serve a marinha finlandesa num submarino) torcíamos por algum fulano que era incrível, bateu todos os recordes, chegou ao prêmio máximo de un millón de pesetas e foi tema de um programa dedicado a ele, em que os participantes tiveram que responder perguntas sobre a sua trajetória no programa.

O recente é "National Geo-Genius", da National Geographic. Também é bem difícil, e pra piorar é limitado a um tema só. Em vez de acumular pesetas, os competidores vão acumulando milhas, e ao longo de cada programa, tentam dar uma volta simbólica ao mundo partindo de um ponto qualquer. A cada n perguntas certas, o competidor segue em frente. A apresentadora parece bastante com a Beth Gibbons do Portishead, e é insuportávelmente arrogante.

Mas, bem, é dessas coisas que se alimenta o gosto pós-modernoso por cultura kitsch. Grande parte da graça está na forma como a gente lê esses textos, está na perspectiva de uma certa self-awareness de consumidor de cultura boçal. É uma coisa tarantínica. Já viu termo mais difícil de traduzir do que "self-awareness"?