Anacoluto: caffeine for the mind, pizza for the body, sushi for the soul.

"We're not, as some people maintain, obsessed with pop culture so much as we're obsessed with its possibilities for stratification and dateability." (Thurston Moore)

21.11.02

Raios de falta de senso tecnológico. Já transformaram o ICQ Lite em bloatware de novo. Você sabe, o ICQ Lite foi lançado porque o ICQ tinha ficado grande demais, pesado demais, gordo demais, com recursos inúteis demais. Vários dos recursos inúteis foram incorporados ao ICQ Lite agora. Grrrrr.

Peguei o novo do Pearl Jam. Ainda estou ouvindo a segunda metade.

Bem, vamos lá. A primeira metade é decepcionante. As baladinhas soam contritas, e os números hard-rock soam ainda mais fabricados que os do "Ten", o único outro disco do Pearl Jam que conheço. Embora o riff de "Save you" seja legal. Eu já estava desistindo, quando chegou "You are". Uma música só do Matt Cameron! Sempre me decepcionou como o Matt Cameron nunca deu ao Pearl Jam aquela organicidade caleidoscópica vista no Soundgarden - pelo menos no "Superunknown", que poderia ser um disco só de bateria e ainda ser muito fantástico.

"You are" é estruturada em torno de um riff fraturado, solto, numa guitarra hiper-processada, aparentemente tocada pelo próprio Cameron. Tenho o tempo inteiro a impressão de ouvir "a poisoned flower", mas parece que isso não está em lugar nenhum. Mas, bem, a letra vale, as far as Pearl Jam goes, e é tão diferente de qualquer coisa Pearl Jam antes que fico com muita vontade de ouvir um disco solo do Matt Cameron. Eu diria que "You are" está para o Pearl Jam como "Numb" esteve para o U2. É uma banda se reinventando.

Aquela coisa de guitarra processada, dando uma aura mezzo-eletrônica continua em "Wanted to get right", também do Cameron. Coincidência ou não, segue "Green disease", um número que lembra um pouco Buzzcocks ou o primeiro Siouxsie and the Banshees. Pouco inspirado - e do Vedder. O Jeff Ament tem duas músicas - uma baladinha até interessante, com vocais processados, um clima meio Black Heart Procession, e um riff ascendente no refrão fantástico. Essa baladinha é seguida por "Bushleaguer", do Stone Gossard, que é mais um clima, uma mood levada por um longo recitativo que acho que fala de política. "He''s not a leader, he's a Texas leaguer" - isso e o título dão uma pista.

Segue "Half full", um número que parece Pearl Jam clássico, da época do "Ten", e no entanto é a outra música do Ament. Tem um interlúdio meio gospel chamado "Arc" antes de "All or none", um número Pearl Jam típico e menos inspirado do Gossard. Eu fico com a sensação de que o álbum fica dividido entre personalidades distintas de cada membro. "Ten" me pareceu coeso, e se não olhasse na Allmusic, não saberia que também tem músicas só do Ament e só do Gossard. A primeira metade do disco, que é quase toda ruim - exceto por "Cropduster" - de quem? do Matt Cameron - tem ainda uma baladinha escrita pelo tecladista convidado.

E todas as músicas do Vedder são insuportávelmente ruins. If you ask me, era melhor deixar o Matt Cameron escrever todas as canções.