Eles entenderam tudo errado
Metade dos críticos de rock chamam o Coldplay de "Radiohead limpo". A outra metade fala de "british sensitive rockers". Ora, onde o Radiohead é irracional (e que não fique a conotação negativa da palavra aqui), Coldplay fala constantemente de uma obsessão irredenta pelo controle.
Veja, pessoas sensíveis permitem-se explorar o acaso. Os dois trechos mais significativos vêm de "Politik" (give me one, 'cause one is best - in confusion, confidence) e "God put a smile" (give me smile and give me grace - and put a smile upon my face), e clamam justamente por um abrigo do acaso, por um mundo mais razoável onde viver seja menos perigoso.
Toda a narrativa do Coldplay fala de pessoas insensíveis (em parte porque racionais como método e destino, e em parte porque auto-centradas, vivendo a parte que importa da sua vida dentro de si mesmas) sendo confrontadas com as suas emoções, com o seu sentir (e aqui acontece uma interessante duplicidade feel/sense) o mundo. Eu acho que é isso o que me atinge com mais força.
Para quem anda acompanhando as minhas aventuras pelo sistema Myers-Briggs, são as aventuras de tipos xNTx explorando suas funções Sx e Fx. Eu acho que alguns críticos de rock ainda não sabem disto aqui: nós não somos personagens com histórias simples e reações simples a histórias de tipos comuns. Nós vivemos vidas, estas sucessões de fatos e sensações incrivelmente complexas, irredutíveis a estruturas narrativas.
Mas claro, "Clocks" fala de quando amamos estar vivos, acordar cada dia, e nos jogarmos no abismo.
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