Anacoluto: caffeine for the mind, pizza for the body, sushi for the soul.

"We're not, as some people maintain, obsessed with pop culture so much as we're obsessed with its possibilities for stratification and dateability." (Thurston Moore)

24.11.02

Como o David Byrne, I hate people when they're not polite.

O pior é que deve parecer uma estratégia oblíqua de divulgação. Não, não, não, eu não tinha a menor intenção de fazer "divulgação" explícita deste blogue.

Não na lista CINEMABRASIL. Acontece apenas que eu coloquei o endereço na minha assinatura automática porque escrevo muito para várias listinhas de grupos pequenos - economia da PUC, comunicação da UFF, fãs de progressivo, operadores da bolsa. É por isso que há uma referência aos tais dos profissionais do cinema como "chacais famintos". No fundo, são pessoas pleiteando recursos públicos para objetivos os mais privados possíveis.

É um escândalo que "Avassaladoras" tenha sido bancado pelo governo pelo mesmo motivo que seria um escândalo se um disco do Kid Abelha fosse bancado pelo erário público. É errado.

E o Diogo Mainardi, sejam quais tenham sido seus resultados estéticos (não vi o filme), provou que não é necessário.

De qualquer maneira, eu vinha tentando abrir espaço para esse tipo de argumento na lista CINEMABRASIL de uma forma inteiramente distinta. Não se insulta de frente as pessoas que você quer convencer. Tenho, sim, a impressão de que a discórdia é desencorajada porque todo mundo pode vir a precisar de todo mundo no futuro, e isso significa claramente um incentivo à desonestidade intelectual. Diz o meu Amigo Kauffie que eu tenho um complexo de mártir. Weeell, eu sou muito menos forte que isso. Daí eu optar pela discussão razoável em listas de e-mail, e não por gritaria nos debates do CBC ou protestos criativos como invadir o Brasil Documenta com dez mendigos nus.

Talvez quando estamos tentando persuadir, a discussão razoável seja um substituto ruim para a gritaria e as técnicas de persuasão irracional da publicidade e da ideologia. Mas na busca da tal da verdade (que em paz descanse), a discussão razoável é bem mais útil, e, se sofisticada o suficiente, bem mais agradável. É difícil separar os dois objetivos, e isso foi colocado melhor pelo d.a. levy: verdade e auto-percepção são como dois pássaros tentando deixar o planeta porque estão cansados de morrer.

É claro que o cara meteu uma bala no crânio em 1968. Pra não fazer isso, eu larguei o mundo do cinema altogether. Terei, pelo menos, os prêmios de consolação da cultura de consumo: todos os pedais de guitarra que o dinheiro pode comprar.

Mas a discussão razoável se esgota quando fundimos as premissas com as conclusões, formando um discurso que se auto-alimenta. A é verdadeiro porque B é verdadeiro, e B é verdadeiro porque já tínhamos estabelecido que A é verdadeiro, certo? E então o debate deixa de acontecer.

A cronologia dos fatos segue. Em primeiro lugar, o Dioclécio envia um texto já completamente off-topic acusando a mídia de ser parcial contra o Lula. Mesmo depois de sua eleição. Ora, que tipo de discurso é esse que nos previne que qualquer crítica ou acusação que a imprensa pode fazer é automáticamente mero resultado da parcialidade dos meios de comunicação em favor das "elites tradicionais" e essas coisas todas? Nessa, e em várias outras coisas, sinto um discurso que prepara para a censura. É fato, concreto, que pelo menos um site na Internet que fazia oposição ao Lula foi fechado sob ameaça de custoso processo por parte do sr. André Singer.

E muita gente defendeu a atitude do PT.

Isso me preocupa, com sinceridade. Eu me meto em muitos debates porque os sinto intelectualmente excitantes, mas isto é real, premente e inescapável. Sistemas que se auto-perpetuam reprimindo a crítica são di-ta-du-ras. Pronto, falei.

Eu tenho que reagir a esse tipo de discurso simplesmente porque é o papel de todos que percebem o perigo. Sei que o que posso fazer é pouco. Mas, em vez de responder ao tópico, o Dioclécio optou por se queixar de um comentário maldoso. E assim prosseguem os off-topics. Até que o observador distraido não perceba que diabos esse maluco está falando sobre silepses.

E isso reforça o velho consenso das quietas certezas que nunca foram reviradas.


if they ever organize
the fine arts council, even
the poets will be kept in line
like they are in cleveland
its so easy to convince poets
what poetry is
and what it isnt
& everyone knows
sleeping with the muse
is only for young poets
after you've been kept impotent
by style & form & words like "art"
after being published by the RIGHT publishers
and having all the right answers
after youve earned the right to call yrself
a poet yr dead
& lying on yr back
drinking ceremonial wine, while
the muse, who is always a young girl
with old eyes into the universe
suddenly remembers necrophilia
is an experience shes had before
& shes not interrested
in straddling corpses anymore

(d.a. levy, suburban monastery death poem)