É hora de escrever de novo. Sobre língua e nacionalismo. Em parte como reação a comentários no último Observatório da Imprensa, mas também como resposta, sempre adiada, a algumas críticas que há muito me fazem.
Sim, eu sou um pouco culpado. Optei inúmeras vezes por "esquinas rítmicas" como I mean para não quebrar o fluxo do texto. Sim, é um pouco de preguiça - de procurar expressões do vernáculo que se encaixem na sucessão de idéias no tempo da leitura. "Quero dizer" não é um "lick lingüístico", não é uma esquina cuja primeira leitura seja a de um mero conectivo entre uma idéia e uma explicação mais extensa dela. E "quer dizer", que andei tentando usar em vez de I mean é gramaticalmente horrenda.
O que se supõe que devo fazer?
Feita a confissão, é importante nunca perder de vista o postulado de que idiomas não são externos ao homem. Não são uma parte da physis que experimentamos, mas uma parte da nomos que codificamos ativamente o tempo inteiro. Idiomas mudam. É apenas lógico que à medida que a cultura que experimentamos se sofistica, haja a interpenetração dos códigos. Ei, não me venham dizer que os americanos não fazem o mesmo.
Onde nós usamos o termo "feeling", em inglês, os americanos usam "gusto". Em espanhol.
Por momentos, acho que a tarefa toda está um pouco acima das minhas possibilidades. Para ser um bom economista, devo adquirir uma razoável sofisticação em matemática. Não sei bem por onde começar, mas consigo escrever e pensar sobre economia, se bem que superficialmente, alheio ao axioma da indução finita de Peano. Mas para escrever e pensar sobre economia, let alone (ai, ai) sobre cinema, preciso exercer uma sofisticação lingüística que às vezes é muito mais cômodo eludir.
No meio de um documentário sobre Darwin, alguém - um premiado Pulitzer - disse que embora nossos idiomas modernos tenham 40 mil palavras, não usamos mais do que 4 ou 5 mil na linguagem coloquial. Isso é deprimente. Deprimente porque certamente todo o palavrório extra dá acesso a uma maior precisão - ou por outra, uma maior ambigüidade, quando é o que nos interessa - no falar, quando não a um fluxo suave, mais elegante, em que os advérbios formam bolhas na superfície como as pedras no rio.
Diante dos objetivos maiores da precisão (ou ambigüidade, porque escrever é um jogo de espelhos), fluxo, sentido e estilo, ideais como nacionalismo lingüístico são como o problema do colesterol quando somos, antes de tudo, animais carnívoros. Náufragos no meio do mar, que nos importa se não escovamos os dentes hoje?
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