Tem horas que olho pra cara da conjuntura, a conjuntura olha pra minha cara, e nós dois estamos morrendo de vontade de não escrever coisa nenhuma sobre a espermátide do noticiário. É o que dizia o grande filósofo Cabelo Argentino:
"Etc, etc."
Começou quando topei com o Fidel na TV. 31 à noite, não sei se antes ou depois de inaugurar 2003 na praia. Ato reflexo, estou de joelhos. Something wicked comes this way.
Sei que a festa da posse significou muita coisa. Significou muita coisa no sentido de carregar muitos significados mesmo. Há a primeira leitura, saída direto de uma seqüência cortada de um roteiro para a série de filmes Porky's: deste lado, os Rituais do Poder - o novo Presidente é conduzido por uma Tropa centenária com cavalos brancos, uniformes lin-dos e um nome imponente do gênero "Cavaleiros da Ordem do Dragão da Independência". Daquele, as multidões que querem tocar o Mahatma Silva, que se jogam sobre seu pescoço, invadem o espelho-d'água Ganges para vê-lo de perto. Os protocolos estão sendo quebrados. E tudo é festa!
É curioso (ou não, a crer nos hermanitos do MSM) que a leitura reacionária tenha sido suprimida. O sentido do abuso, da desordem, do susto, do pânico, do descontrole. São dois pólos igualmente imaturos e/ou saídos diretamente do livro. Incomoda que um tenha sido suprimido, no entanto. Onde a interpretação festiva vê uma grande expressão simbólica do significado último de democracia - o povo que invade a Praça dos (não um, não dois, mas) Três Poderes - a visão reacionária leria algo acintoso, não muito diferente de um estupro: o belo ritual, os belos cavalos brancos, o sentido mesmo de formalidade do ritual do poder sendo solenemente jogado no lixo pela espontaneidade populista de quem prefere Gil a Morelenbaum. This shade of autumn's stale bitter end.
Onde estão os reacionários? Onde os escondem?
No dia seguinte, Ciro dá o calote. Os símbolos estão por toda parte - Chávez, Fidel, almoço, Palocci que lembra Ruy Barbosa que lembra encilhamento - mas a rapidez dos acontecimentos parece tirar-me o direito de continuar a preocupação com símbolos.
With western eyes and serpent's breath
We lay our own conscience to rest
I feel so cold on hookers and gin
.... this mess we're in...
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