Anacoluto: caffeine for the mind, pizza for the body, sushi for the soul.

"We're not, as some people maintain, obsessed with pop culture so much as we're obsessed with its possibilities for stratification and dateability." (Thurston Moore)

21.5.03

Anakólouthos

Acabo de ler, na Primeira Leitura, um excelente texto de Hugo Estenssoro que propõe que a Segunda Guerra do Golfo foi o momento abissíno, conceito que ele mesmo explica a partir da invasão da Abissínia por Mussolini. E apesar do que o meu resumo tolo pode fazer parecer, o texto defende a necessidade do ataque.

Ora, o artigo de Estenssoro escancara pelo agudo contraste a pobreza relativa do que eu faço aqui. É bem verdade que o meu texto (e que aqui pese a idéia de textura) tem melhorado, mas ainda cometo derrapadas estilísticas horrendas. Onde são passíveis de resolução, o texto é editado; quando torna-se estrutural, fica o erro, e vamos em frente. Dito isso, uma olhada rápida nos arquivos mostra alguma evolução ao longo do tempo - e pretendia eu justamente que escrever se tornasse um círculo virtuoso - mas altos e baixos acontecem a todo momento, e talvez pescar as coisas que valem a pena dê algum trabalho.

Dito isso, ficou a vontade de deixar um post explicitando que o Anacoluto é, antes de tudo, um caderno de exercícios. Nada aqui representa a forma final do pensamento de Diego Navarro. Por um lado, porque a forma final do pensamento não existe - é a única coisa inteligente que Raul Seixas disse em toda sua carreira - e por outro porque um post é uma coisa composta às pressas, sem compromisso, e para os 35-40 leitores diários do blogue.

É um pouco como a foto de uma cena complexa, cheia de gente e props, recortada em dezenas de quadradinhos, que vão sendo jogados aos poucos do alto de um canyon, e são levadas pelo Rio.

Às vezes, posso parecer hiperconservador. Às vezes, um metaleiro de sorveteria. Não tenho a bagagem que é preciso para escrever sobre Bach no nível em que escrevo sobre Coldplay, e gosto da sensação de percorrer terreno inexplorado ao assumir a persona do crítico de rock. Em matéria de política, sou liberal; em matéria de estética, sou hedonista, o que me leva a ser denunciado por toda sorte de ideólogo estético (dos fanáticos por música high-brow aos sambistas hipernacionalistas) como irresponsável.

Lo soy. Reservo a responsabilidade para coisas mais graves; estudo economia para compreender a infraestrutura do mundo real de forma mais objetiva, mas vou decorando os rebordos que me são comissionados de forma - sim - irresponsável. And it's none of your business.

Simplesmente escrevo, como há gente que freqüenta restaurantes - um pouco por gula, um pouco por arte - e como fundo moral, ou como raiz do hábito cultural incompreensível, por necessidade alimentar, por desenvolver o sentido fugidio da frase e da palavra. Há gente que se dedica a desenvolver o sorriso perfeito, a grace under pressure. Eu escrevo.