Anakólouthos
Acabo de ler, na Primeira Leitura, um excelente texto de Hugo Estenssoro que propõe que a Segunda Guerra do Golfo foi o momento abissíno, conceito que ele mesmo explica a partir da invasão da Abissínia por Mussolini. E apesar do que o meu resumo tolo pode fazer parecer, o texto defende a necessidade do ataque.
Ora, o artigo de Estenssoro escancara pelo agudo contraste a pobreza relativa do que eu faço aqui. É bem verdade que o meu texto (e que aqui pese a idéia de textura) tem melhorado, mas ainda cometo derrapadas estilísticas horrendas. Onde são passíveis de resolução, o texto é editado; quando torna-se estrutural, fica o erro, e vamos em frente. Dito isso, uma olhada rápida nos arquivos mostra alguma evolução ao longo do tempo - e pretendia eu justamente que escrever se tornasse um círculo virtuoso - mas altos e baixos acontecem a todo momento, e talvez pescar as coisas que valem a pena dê algum trabalho.
Dito isso, ficou a vontade de deixar um post explicitando que o Anacoluto é, antes de tudo, um caderno de exercícios. Nada aqui representa a forma final do pensamento de Diego Navarro. Por um lado, porque a forma final do pensamento não existe - é a única coisa inteligente que Raul Seixas disse em toda sua carreira - e por outro porque um post é uma coisa composta às pressas, sem compromisso, e para os 35-40 leitores diários do blogue.
É um pouco como a foto de uma cena complexa, cheia de gente e props, recortada em dezenas de quadradinhos, que vão sendo jogados aos poucos do alto de um canyon, e são levadas pelo Rio.
Às vezes, posso parecer hiperconservador. Às vezes, um metaleiro de sorveteria. Não tenho a bagagem que é preciso para escrever sobre Bach no nível em que escrevo sobre Coldplay, e gosto da sensação de percorrer terreno inexplorado ao assumir a persona do crítico de rock. Em matéria de política, sou liberal; em matéria de estética, sou hedonista, o que me leva a ser denunciado por toda sorte de ideólogo estético (dos fanáticos por música high-brow aos sambistas hipernacionalistas) como irresponsável.
Lo soy. Reservo a responsabilidade para coisas mais graves; estudo economia para compreender a infraestrutura do mundo real de forma mais objetiva, mas vou decorando os rebordos que me são comissionados de forma - sim - irresponsável. And it's none of your business.
Simplesmente escrevo, como há gente que freqüenta restaurantes - um pouco por gula, um pouco por arte - e como fundo moral, ou como raiz do hábito cultural incompreensível, por necessidade alimentar, por desenvolver o sentido fugidio da frase e da palavra. Há gente que se dedica a desenvolver o sorriso perfeito, a grace under pressure. Eu escrevo.
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