Fênix
Anacoluto o que gosto, e gosto do que anacoluto.
Em certo ponto de elevada paranóia, senti que o Anacoluto podia estar se tornando uma liability, o registro indelével de um pensamento polêmico, políticamente incorreto e um tanto inflexível. Tentei fazer presente a natureza transitória e contingente do que faço. No fim, achei que contribuía mais falando de coisas sérias. E comecei o Livros, que nunca realmente decolou. Leio pelo menos um livro por semana como parte da minha dieta civilizatória, mas resenhar é difícil, e o calendário me engoliu como uma baleia engole um boneco de madeira.
Escrever é um hábito; deixar o Anacoluto de lado por uns tempos produziu a rápida ferrugem por que passa um músico quando deixa o instrumento. Os posts são sempre escritos de uma vez só, de forma muito rápida e sem olhar para trás, e sinto agora que o texto que sai dos meus dedos muito mais pobre e clumsy do que ele já chegou a sair em bons tempos. Não ajuda que os principais temas de atualidade tenham se tornado significativamente mais complexos do que os que aconteciam em março/abril.
Mas preciso escrever. Talvez a solução seja passar ao largo da política, o que me conferirá o duplo alívio da rarefação de opiniões potencialmente comprometedoras e do afastamento da espada de Dâmocles do simplismo pasteleiro. Sei que sou qualquer coisa parecida com um liberal, e não acredito na solução revolucionária; acredito em contratos firmados com consentimento informado de duas partes. Acredito na viabilidade do capitalismo como modelo de desenvolvimento justo e proporcionador de um ambiente excitante de realização pessoal. E por último, talvez ultrapassando um pouco as fronteiras usuais do blogue, acredito que em algum lugar há alguém - que ainda vou conhecer - que vai ter o encaixe certo do Lego.
Acho que é mais ou menos isso. O Livros continuará vivo. Escreverei mais. Tenho poucas certezas. Gosto cada vez mais de economia e de finanças, e tenho minha cota de habilidade conceitual abstrata que podem ser bem canalizadas. Gosto de música como há quem goste de praia, cerveja e pornografia soft. E quero escrever, escrever, escrever, escrever.
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