Anacoluto: caffeine for the mind, pizza for the body, sushi for the soul.

"We're not, as some people maintain, obsessed with pop culture so much as we're obsessed with its possibilities for stratification and dateability." (Thurston Moore)

11.7.03

Fênix

Anacoluto o que gosto, e gosto do que anacoluto.

Em certo ponto de elevada paranóia, senti que o Anacoluto podia estar se tornando uma liability, o registro indelével de um pensamento polêmico, políticamente incorreto e um tanto inflexível. Tentei fazer presente a natureza transitória e contingente do que faço. No fim, achei que contribuía mais falando de coisas sérias. E comecei o Livros, que nunca realmente decolou. Leio pelo menos um livro por semana como parte da minha dieta civilizatória, mas resenhar é difícil, e o calendário me engoliu como uma baleia engole um boneco de madeira.

Escrever é um hábito; deixar o Anacoluto de lado por uns tempos produziu a rápida ferrugem por que passa um músico quando deixa o instrumento. Os posts são sempre escritos de uma vez só, de forma muito rápida e sem olhar para trás, e sinto agora que o texto que sai dos meus dedos muito mais pobre e clumsy do que ele já chegou a sair em bons tempos. Não ajuda que os principais temas de atualidade tenham se tornado significativamente mais complexos do que os que aconteciam em março/abril.

Mas preciso escrever. Talvez a solução seja passar ao largo da política, o que me conferirá o duplo alívio da rarefação de opiniões potencialmente comprometedoras e do afastamento da espada de Dâmocles do simplismo pasteleiro. Sei que sou qualquer coisa parecida com um liberal, e não acredito na solução revolucionária; acredito em contratos firmados com consentimento informado de duas partes. Acredito na viabilidade do capitalismo como modelo de desenvolvimento justo e proporcionador de um ambiente excitante de realização pessoal. E por último, talvez ultrapassando um pouco as fronteiras usuais do blogue, acredito que em algum lugar há alguém - que ainda vou conhecer - que vai ter o encaixe certo do Lego.

Acho que é mais ou menos isso. O Livros continuará vivo. Escreverei mais. Tenho poucas certezas. Gosto cada vez mais de economia e de finanças, e tenho minha cota de habilidade conceitual abstrata que podem ser bem canalizadas. Gosto de música como há quem goste de praia, cerveja e pornografia soft. E quero escrever, escrever, escrever, escrever.