Anacoluto: caffeine for the mind, pizza for the body, sushi for the soul.

"We're not, as some people maintain, obsessed with pop culture so much as we're obsessed with its possibilities for stratification and dateability." (Thurston Moore)

5.3.03



Os cientistas acreditam que os humanos são o resultado de bilhões de anos de evolução. Não posso explicar toda a teoria da evolução aqui, mas ela pode ser resumida assim:

Teoria da Evolução (Resumo)

Primeiro existiam algumas amebas. Amebas dissidentes se adaptaram melhor ao ambiente, tornando-se assim macacos. E aí veio a Gestão de Qualidade Total.

Estou deixando de lado alguns detalhes, mas a teoria em si também tem alguns furos que é melhor não questionar.

De qualquer forma, levamos muitos anos para chegar a este nível sublime de evolução. Não havia nada de mais neste ritmo descansado porque não tínhamos muito o que fazer, exceto sentar e esperar não ser comido por porcos selvagens. E então alguém caiu em cima de um galho pontudo e estava inventada a lança. Foi aí que começou a confusão.

Eu não estava lá, mas aposto que alguém disse que a lança jamais substituiria as unhas como a melhor ferramenta numa briga. O pessoal do contra xingou os usuários das lanças, chamando-os de "moog" e "blinth". (Isto foi antes de existir a marinha mercante, portando ainda não se sabia xingar muito bem.)

Mas não se falava em "diversidade" naquela época, e acho que o pessoal do "Diga Não Às Lanças" acabou sendo mais "objetivo", se é que você está me acompanhando.

A vantagem da lança é que quase todo mundo era capaz de entendê-la. Tinha uma característica básica: a ponta afiada. Nossos cérebros estavam equipados para este nível de complexidade. E não só os cérebros dos intelectuais - o homem comum também podia entender o que era uma lança. A vida era boa, salvo algumas pragas ocasionais, e o fato de que a expectativa média de vida era de sete anos... e que depois dos quatro você já estava rezando para morrer. Mas quase todo mundo se queixava de como as lanças eram confusas.

De repente (em termos evolucionários), um dissidente chegou e construiu uma prensa tipográfica. Depois disso, foi uma ladeira escorregadia. Duas piscadas mais tarde e estávamos trocando as baterias dos nossos laptops enquanto cruzávamos os céus em objetos metálicos brilhantes onde nos serviam amendoins e refrigerantes.

Culpo o sexo e os jornais pela maioria dos nossos problema hoje em dia. Esta é a minha lógica: só uma pessoa, entre um milhão de outras, é inteligente o bastante para inventar a imprensa. Portanto, quando a sociedade era formada apenas de algumas centenas de pessoas parecidas com macacos morando em cavernas, as chances de uma delas se tornar um gênio eram muito poucas. Mas as pessoas estavam sempre fazendo sexo, e a cada novo débil mental que vinha ao mundo, cresciam as chances de um dissidente sabichão escorregar da rede genética. Quando se tem vários milhões de pessoas correndo por aí e fazendo sexo sem nenhum planejamento, são muitas as chances de que alguma mamãe macaca grávida se agache no meio do mato e coloque para fora um dissidente inventor-de-prensa-tipográfica.

Com as prensas, nosso destino estava traçado. Porque, então, todas as vezes que um novo dissidente esperto tinha uma idéia, ela era anotada e compartilhada com os outros. Todas as boas idéias podiam ser aprimoradas. A civilização explodiu. Nascia a tecnologia. A complexidade da vida cresceu geométricamente. Tudo ficou maior e melhor.

Exceto os nossos cérebros.

Toda a tecnologia que nos cerca, todas as teorias de gerenciamento, os modelos econômicos que prevêem e orientam o nosso comportamento, a ciência que nos ajuda a viver até os oitenta anos - tudo isso é criado por uma porcentagem minúscula de dissidentes espertos. O resto procura se manter à tona da melhor maneira possível. O mundo é complexo demais para nós. A evolução não acompanhou isso. Graças à prensa tipográfica, as pessoas espertas dissidentes conseguiram capturar seus gênios e comunicá-los sem ter que transmití-los genéticamente. A evolução entrou em curto-circuito. Alcançamos o conhecimento e a tecnologia antes da inteligência.

Somos um planeta com aproximadamente seis bilhões de bobos vivendo numa civilziação que foi projetada por uns poucos milhares de dissidentes interessantemente inteligentes.


(Scott Adams, em "O Princípio Dilbert")