Anacoluto: caffeine for the mind, pizza for the body, sushi for the soul.

"We're not, as some people maintain, obsessed with pop culture so much as we're obsessed with its possibilities for stratification and dateability." (Thurston Moore)

8.3.03

Uma confissão




Nunca fui daqueles que realmente se divertem com Ornette Coleman e John Zorn. Nunca gostei de free jazz escorregadio.Tenho um par de gravações ao vivo de Coltrane em "My favorite things" em que a flauta Eric Dolphy se intromete e acaba com todo o clima. Sou fraco. E hardbop-centrista. E penso que Horace Silver é um dos músicos mais injustiçados ever.

Sou forte a ponto de gostar, com sinceridade, da Sagração da Primavera, de momentos selecionados do Merzbow, e das sinfonias de Glenn Branca. Mas sou fraco demais para Ornette Coleman.

Ainda assim, sempre gostei do "Out to lunch" do mesmo Eric Dolphy. Para todos os catálogos, é um disco de free jazz. Tem a flauta giratória de Dolphy em "Gazzeloni", e está pelo geral recheado desses solos-em-tobogã. Sempre me senti feliz de poder apontá-lo como o meu disco de free jazz favorito. Mas, hèlas, uma audição depois de algum tempo de abstinência me faz perceber que é um pouco de cheating.

O segredo da enjoyability ("desfrutabilidade" parece tão sexual...) do "Out to Lunch" é que o único instrumentista a se permitir o luxo do free jazz é o próprio Dolphy. A bateria de Tony Williams é puro groove, complexa sem protagonismo. Lembra muito a banda do Dave Brubeck. O baixo de Richard Davis é esperto ao fazer citações à trajetória do baixo no jazz. O trumpete de Freddie Hubbard é quase tradicional, um hard-bop avançado. E os vibrafones de Bobby Hutcherson parecem estar lá para evitar que um pianista se deixe levar pela tentação de ser um Cecil Taylor. Um piano pode ser percussivo, agressivo, mas Bobby pode apenas ser smooth, acrescentar sabor ao molho jazzístico.

Crossover. Genial, mas crossover. *suspiro*