This is revolution
Muitas das disciplinas da soft-science que surgiu em torno da desconstrução e da psicanálise no século passado são jogos sem fim. O próprio relativismo é um jogo sem fim, fato apontado por gerações de cínicos: afinal, mesmo a proposição "tudo é relativo" deveria ser relativa, certo?
A pragmática - subdisciplina da lingüística - pode ser um jogo-sem-fim de conseqüências interessantes. O exemplo clássico de análise pragmática de uma fala é o "eu te amo". Aparentemente, para os lingüistas da pragmática, uma afirmação como essa traz, implícita, uma indagação acerca da recíproca: você diz "eu te amo" para saber se é correspondido.
Nessa linha de análise, o que está incluído no pacote quando eu resolvo fazer uma defesa do ethos do substância-acima-de-estilo?
Eu consigo ver duas coisas. A primeira é uma analogia tola. A forma de apresentar o problema ajuda, dado o nosso centenário treinamento para a indução a qualquer custo: estilo frilly, substância frilly. A outra é uma dicotomia. Nem sempre o estilo sabotará a substância; faz parte do rol de utilidades do estilo a função de mimetizar o efeito de uma substância sólida e qualitativa.
Nesse caso, o discurso da substância-acima-do-estilo se adaptará: um estilo adequado será um sucedâneo de substância mais fácil de obter, mas de muito menor qualidade. Desta hierarquia, emerge o idealismo quixotesco: apesar de ser mais fácil, opto por priorizar a substância. Do quixotesco, surge o heroísmo: priorizarei a substância desprezando o estilo. E daqui, a pura arrogância: a minha substância é tão boa que não preciso de um estilo atraente.
Na verdade, eu mudei o template porque queria mais espaço. Fiquei sériamente tentado a sair com um discurso de substância-acima-de-estilo que reaproveitasse a contingência ruim de um template feito pela metade, que será acertado aos poucos e a transformasse em ethos. Por quanto tempo eu conseguiria levar adiante uma farsa assim?
Não vale a pena. Os meus leitores são mais espertos que isso.
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