Anacoluto: caffeine for the mind, pizza for the body, sushi for the soul.

"We're not, as some people maintain, obsessed with pop culture so much as we're obsessed with its possibilities for stratification and dateability." (Thurston Moore)

23.7.03

This is revolution

Muitas das disciplinas da soft-science que surgiu em torno da desconstrução e da psicanálise no século passado são jogos sem fim. O próprio relativismo é um jogo sem fim, fato apontado por gerações de cínicos: afinal, mesmo a proposição "tudo é relativo" deveria ser relativa, certo?

A pragmática - subdisciplina da lingüística - pode ser um jogo-sem-fim de conseqüências interessantes. O exemplo clássico de análise pragmática de uma fala é o "eu te amo". Aparentemente, para os lingüistas da pragmática, uma afirmação como essa traz, implícita, uma indagação acerca da recíproca: você diz "eu te amo" para saber se é correspondido.

Nessa linha de análise, o que está incluído no pacote quando eu resolvo fazer uma defesa do ethos do substância-acima-de-estilo?

Eu consigo ver duas coisas. A primeira é uma analogia tola. A forma de apresentar o problema ajuda, dado o nosso centenário treinamento para a indução a qualquer custo: estilo frilly, substância frilly. A outra é uma dicotomia. Nem sempre o estilo sabotará a substância; faz parte do rol de utilidades do estilo a função de mimetizar o efeito de uma substância sólida e qualitativa.

Nesse caso, o discurso da substância-acima-do-estilo se adaptará: um estilo adequado será um sucedâneo de substância mais fácil de obter, mas de muito menor qualidade. Desta hierarquia, emerge o idealismo quixotesco: apesar de ser mais fácil, opto por priorizar a substância. Do quixotesco, surge o heroísmo: priorizarei a substância desprezando o estilo. E daqui, a pura arrogância: a minha substância é tão boa que não preciso de um estilo atraente.

Na verdade, eu mudei o template porque queria mais espaço. Fiquei sériamente tentado a sair com um discurso de substância-acima-de-estilo que reaproveitasse a contingência ruim de um template feito pela metade, que será acertado aos poucos e a transformasse em ethos. Por quanto tempo eu conseguiria levar adiante uma farsa assim?

Não vale a pena. Os meus leitores são mais espertos que isso.