Anacoluto: caffeine for the mind, pizza for the body, sushi for the soul.

"We're not, as some people maintain, obsessed with pop culture so much as we're obsessed with its possibilities for stratification and dateability." (Thurston Moore)

20.3.03

Referências

Estou cansado de falar de coisas graves. O meu e-mail está cheio de pequenas homilias pela paz e grandes diatribes antiamericanas, mas não tenho mais energia para continuar nessa. Alguém quer fazer o favor de assumir a partir daqui? Deixe a sua URL nos comentários que eu linco, ali no painel da direita. De fato, eu estava sem energia para blogar at all, mas a Kinha pediu com jeitinho. Então vamos lá.

É divertido ponderar com as décadas vindouras vão estruturar a narrativa desta guerra. Se for uma guerra curta, certamente ficará marcada como atrelada a um objetivo e nada mais. Mas se for um conflito longo, envolvendo vários países, ganhará contornos similares à guerra mundial de 1939-45. E nesse caso, o marco inicial não será o ataque de ontem, mas os eventos de 11 de setembro de 2001.

De fato, uma guerra "mundial", de grandes proporções, deixa de ser sobre situações específicas - como a Alemanha invadindo a Polônia - e passa a ser sobre valores maiores, sobre grandes ideais. A guerra de 1939-45 foi sobre muito mais do que derrubar um bigodudo perigoso para o mundo - foi uma guerra contra o nazi-fascismo, fenômeno original de seu tempo. Mas isso já são as coisas graves que eu não queria discutir. Às leviandades:

Onde você estava quando os atentados de 11/9 aconteceram?

A UFF estava grevando. Sim, eu estudava na UFF. Comunicação Social (yep!). Mas eu estava decepcionadíssimo com o curso, e preparando-me para novo vestibular. Enrolado com a matemática, eu tinha decidido matricular-me num cursinho pré-vestibular, e começara no dia anterior. As aulas acabavam às dez da noite, e foram cansativas o suficiente para que eu dormisse até umas dez da manhã do dia seguinte. Teria dormido mais, se não tivesse sido acordado.

A impressão mais forte que tenho é a da câmera fixa da Globo, provavelmente em seu escritório em NY, em que as torres gêmeas eram vistas com o mar ao fundo, e nada mais. A impressão subjetiva de que a cidade estava afundando. Passar vinte, trinta minutos assistindo a uma imagem fixa na TV tem os efeitos psicológicos mais interessantes: o bombardeio ontem começou à meia-noite, mas depois de alguns minutos eu tinha a sensação de que estava amanhecendo aqui.

Mas esse tipo de identificação não aconteceu back then. Em vez disso, a imagem dos dois últimos prédios do mundo visível em chamas, com o mar como único fundo e único entorno, traziam a nítida imagem do clássico fim do mundo como o conhecemos. E claro, a idéia de que estavam acontecendo essas coisas simultâneamente em todo o país. Parecia que seria um longo dia de surpresas.

Não foi. Depois das duas torres e do Pentágono, nada mais aconteceu. O mundo voltou ao normal lá pelas 13 horas daqui. Ou será que não?