Anacoluto: caffeine for the mind, pizza for the body, sushi for the soul.

"We're not, as some people maintain, obsessed with pop culture so much as we're obsessed with its possibilities for stratification and dateability." (Thurston Moore)

14.3.03

Refletindo sobre Cálculo II

Aquecendo os tamborins para Teoria Microeconômica I, estive revisando os conceitos e teoremas de Cálculo II. Numa explicação resumida, o ciclo de Cálculo na PUC tem quatro períodos, dois dos quais são obrigatórios para economia. O Cálculo I ensina uma mini-análise, derivação e integração a uma variável; o II cobre uma mini-topologia, derivação a várias variáveis e otimização. Presumidamente o III consiste em integração múltipla e o IV em equações diferenciais ordinárias aplicadas à engenharia.

Cálculo I foi um curso maravilhoso, que me fez sorrir e me fez chorar. Aterrisado diretamente de uma aula de Cinema de Animação com o prof. Moreno na sexta-feira, acordei segunda de manhã assistindo à primeira aula de matemática do resto da minha vida. Foi uma época bastante contraditória: enquanto eu estava fascinado por certos aspectos construtivos do cálculo, a prova de integrais foi uma dreadful experience. Lembro-me de encerrar-me por três tardes inteiras na biblioteca resolvendo dezenas e dezenas de exercícios muito parecidos.

Cálculo II também teve uma primeira parte teórica, mas eu estava escaldado o suficiente para ficar esperando, com o coração frio, a parte onde esses novos conceitos interessantes seriam usados para em prol de procedimentos chatíssimos. Muito da primeira seção de cálculo II nunca foi aplicada à parte de otimização, e hoje arrependo-me de não ter aceito melhor as aulas teóricas do prof. Derek.

O método geral de otimização foi sendo construído lentamente, usando a maioria dos conceitos da primeira seção - embora muito não fosse necessária para "fazer as contas" - e foi se tornando tão grande que passei a maior parte do tempo dedicado a cálculo II procurando aprender os teoremas como as tábuas da Lei que só agora percebo a artificialidade de construções como o Lagrangeano.

Essas coisas parecem ser feitas de modo a serem programáveis. Literalmente, não é difícil fazer com que um computador derive, dada uma rotina esperta de leitura de uma string. Por outro lado, não creio que seja fácil fazer com que um computador integre. É possível fazê-lo aqui, ou com um pacote qualquer de computação simbólica. Mas toda a segunda metade de Cálculo II foi dedicada a um algoritmo relativamente linear: com um par de rotinas de derivação e cálculo de determinantes, não é difícil construir um programa que resolva a grande parte de seus problemas.

Um dado módulo de conhecimento objetivo difícil pode ser muito excitante, ou pode ser frustrante e tedioso. Internalizar aquelas duas ou três regras de integração foi terrívelmente frustrante, e acabou com grande parte da excitação conceitual por trás das integrais. Pensei em mim mesmo a vida inteira como um cara de "humanas", e antes da PUC nunca tinha visto uma integral a cem metros de distância, mas uma vez tentei uma solução intuitiva numa prova de vestibular que era uma tentativa de integração numérica.

Mais tarde descobri que Arquimedes já conhecia o que eu tinha tentado - o "método da exaustão". Estritamente falando, era como a demonstração que Isaac Asimov descobriu para o último teorema de Fermat - não era, e o próprio Asimov sabia minutos depois.

Terei o maior prazer em não fazer o Cálculo III, mas é provável que acabe fazendo o IV. Estou inscrito em Introdução à Análise, o que aparentemente é uma temeridade - afinal, é no terceiro período de economia que se separam os homens das crianças, com estatística I, teoria microeconômica I, contabilidade, contas nacionais, FEB - que nas duas primeiras aulas já foi muito mais difícil do que os cursos de história econômica até aqui - e last but not least álgebra linear. Última disciplina da Matemática na grade obrigatória, o curso de "algelin" promete ser chato, computacional e algorítmico, e talvez seja difícil.

Ainda assim, me inscrevi em Análise por razões contraditórias: por um lado, o meu soft spot pela beleza da matemática precisa de um afago, depois do teorema de Karush-Kuhn-Tucker. Por outro, preciso testar até onde realmente vai o meu estômago por Matemática de Verdade para saber se devo fazer EDP e coisas assim, ou apenas um curso de Cálculo IV. É uma decisão que vai contra toda a lógica mais básica de um maquiavelismo dogbertiano. O meu CR já não está tão bom quanto eu gostaria que estivesse, e fora do meu mundinho um número é um número, não importando se fiz Natação, Fotografia e PowerPoint para Iniciantes ou Estatística, Micro I e Análise.

Mas as duas primeiras aulas foram incrívelmente excitantes. Quer dizer, o custo marginal de fazer mais uma disciplina é medido em frações da minha capacidade intelectual - e como o mundo continua mandando sinais contraditórios sobre as reais possibilidades da minha inteligência, esse custo não pode ser acuradamente medido, o que torna uma análise custo/benefício muito difícil de executar - mesmo que eu pudesse mensurar a thrill de estar estudando matemática.

Mas, bem, para citar o Rush, "we will pay the price / but will not count the cost". Ah, os riscos....

DISCLAIMER: sim, o post do Cláudio meio que motivou este, mas não é em absoluto algo uncalled for. Há várias semanas que venho prometendo escrever sobre matemática; é a primeira vez que consigo.