Anacoluto: caffeine for the mind, pizza for the body, sushi for the soul.

"We're not, as some people maintain, obsessed with pop culture so much as we're obsessed with its possibilities for stratification and dateability." (Thurston Moore)

31.10.03

Eu errei


ao assumir que os cortes de impostos de Bush Jr. eram uma repetição da reaganomics que mais de uma vez havia enfiado o país na jaca.

O PIB americano cresceu 7% no último período. E isso é inequívoco. Dado isso, arriba Greenspan y arriba Schwarzenegger. Nós bem que podíamos tomar umas lições com esse pessoal.

26.10.03

Neuroquímica I

Pessoas gordas são viciadas em coisas doces (em particular o chocolate) que estimulam a produção de dopamina. Não é muito diferente do que faz o álcool.

Pesoas malhadas são viciadas em endorfina, que é produzida pelo organismo quando se atinge um certo grau de esforço físico. Não é muito diferente do que faz a heroína.

Eu olho para homens malhados, musculosos, ou meninas magrinhas, que nitidamente passam horas na academia para ter esse corpinho, como olho para viciados em maconha: casos tristes em que a sensação física se sobrepõe ao espírito humano.

19.10.03

Estratégias Vencedoras


Não é o tipo de coisa que costuma aparecer no Anacoluto, mas parece que o pessoal do FreeBSD, um sistema operacional padrão Unix gratuito melhor que o Linux resolveu contratar os publicitários brasileiros que fazem aquelas campanhas de cerveja.

O pior é que deve funcionar. Nada contra loiras sorridentes em trajes menores, mas eu gostaria de que tivessem escrito "really" certo.

16.10.03



"Blue", do Bark Psychosis, é o cumprimento de uma promessa que vinha sendo feita havia anos por bandas como New Order, Joy Division e Talk Talk. Nada, em toda a música dos anos 80, tem este grau de conteúdo emocional. É acachapante. E o que dizer da coda fake-tropical que termina a faixa?

Talvez involuntariamente, o final de "Blue" é uma refutação da música brasileira.

Parte do problema da música brasileira é que ela nunca conseguiu se sentir segura estéticamente para ser, em si mesma, e sempre se afirmou na sua natureza de projeto. Ainda estranha alguns a possibilidade de alguém poder gostar de música por causa da música. Outro dia, me perguntaram de onde são os Bark Psychosis. E eu não sei.

As pessoas costumam vincular organicidade a emotividade, e pode ser uma surpresa a força emocional que a sintética pura e os vocais sussurrados do Bark Psychosis podem ter. A única linha de guitarra, que antecede e introduz o piano tropical a que eu me referia, diz mais sobre a extensão e a complexidade das emoções de pessoas de verdade do que décadas de Chico Buarque e Elis Regina.

Bark Psychosis personifica até o fim a idéia que só recebeu nome com os chatos australianos do Silverchair: emotion sickness. Você sabe quando você tem tantas emoções misturadas e contraditórias em relação a uma coisa só que se sente fisicamente mal?

Qualquer um que já botou a cabeça pra fora da caixa sabe do que eu estou falando. Qualquer um que vive seus relacionamentos para além da pragmática do sexo e da companhia do sábado à noite e do medo de ficar sozinho sabe do que eu estou falando. "Sentimentos" são kits pré-embalados de emoções que as pessoas se permitem revelar porque têm esferas semânticas bem definidas ao seu redor. Amor romântico significa sexo e cinema no sábado à noite; amizade significa telefonemas depois daquela prova difícil e simpatia nas dificuldades. Relações entre colegas de trabalho são objetivas, exceto no chopinho de sexta à noite. O cliente sempre tem razão, especialmente numa loja de sapatos.

Só que as coisas são mais complicadas do que isso, e algumas pessoas mais inteligentes sabem disso. Gosto de pensar que o fato de que mais de 80% das visitas ao Anacoluto vêm de universidades significa que tenho leitores inteligentes. E os meus leitores inteligentes sabem que o mundo de Dawson's Creek não existe. É disso que o Bark Psychosis está falando: da vida fora da caixa.

15.10.03

Eu acentuo advérbios,

quando vêm de adjetivos acentuados. E espero que os críticos vão embora para Pasárgada, onde os seus diplomas da Estácio talvez valham a cartolina em que foram impressos.