Anacoluto: caffeine for the mind, pizza for the body, sushi for the soul.

"We're not, as some people maintain, obsessed with pop culture so much as we're obsessed with its possibilities for stratification and dateability." (Thurston Moore)

24.9.03

Rádio

A partir de hoje, transmitirei a Rádio Anacoluto todos os dias das 19 às 20 horas, horário de Brasília. A sessão poderá ser sintonizada por qualquer um que seja capaz de tocar mp3's. Basta abrir http://anacoluto.no-ip.info:8000/ no seu programa de mp3 ou clicar aqui.

A programação será variada e eclética - portanto, mesmo se você não gostar do que está ouvindo, deve apenas esperar dois ou três minutos, que coisas radicalmente diferentes virão. Hoje, pretendo tocar um pouco de Bark Psychosis e Laibach (já que os mencionei num post recente), além de um pouco de jazz-rock sueco. Pedidos podem ser enviados ao meu ICQ: 3189502.

23.9.03

Sinais

Se houver uma correlação entre o cenário musical e o panorama econômico, teremos um novo 1979 em breve.

Grandes Esperanças

Novo Laibach e Novo Bark Psychosis, no mesmo mês.

Mas é preciso esperar. Como fazer melhor que "N.A.T.O" e "Hex"?

22.9.03

Ritmo

Quem ainda acha que as coisas da Nação Zumbi ou da Timbalada tem algum mérito, deve ouvir a versão ao vivo de "For nobody" do Gentle Giant. Começa com um sexteto de percussão executado pelas mesmas seis pessoas que tocam órgãopianoxilofoneguitarrasbaixosviolinosviolasvioloncelostrompetessaxofonesviolõesflautasdocesflautastransversasetc.

É de perder o fôlego.

E que não me venham falar de Maria Rita. Maria Rita é coisa de colunista de caderno de cultura.

19.9.03

As palavras

Alma, bergantim, choque, dasein, errante,feitura, gestalt, hiato, irradiação, janela, knock-out, lanterna, metástase, nervura, oblivion, pão&circo, questionamento, rizoma, santidade, tempo, unidade, velocidade, wanton, xilofone, zeitgeist.

16.9.03

Cinqüenta anos em cinco

Uma fatia aleatória de cultura Internet para aqueles que chegaram tarde.

15.9.03

O mistério da MPB

O que eu nunca entenderei é o porquê de tanta gente - em particular gente em outros aspectos esclarecida - que acha que Elizete Cardoso, Aldir Blanc, Elis Regina, Milton Nascimento ou Tim Maia têm alguma relevância whatsoever. Principalmente na era que produziu John Coltrane, John McLaughlin, Ravi Shankar, Thurston Moore, Glenn Branca, Trent Reznor e Tom Jenkinson. É uma lista em que predominam os estrangeiros, e há um númeor de razões para isso - da estatística (e mais de 95% das pessoas do mundo são estrangeiros) ao clima cultural mediocregênico em que nos desenvolvemos. Por último, há a dificuldade em se descobrir que existem artistas como Egberto Gismonti, Arrigo Barnabé, Renato Consorte, Airto Moreira, Arto Lindsay e tantos outros. Quando as rádios querem dar uma de cultas, jogam um Chico Buarque da fase ruim.

It's a sad state of affairs. E a maior parcela da culpa é da classe média.

11.9.03



8.9.03

Saindo da sombra

Agora você pode conversar com Diego "Anacoluto" Navarro através do ICQ. O número é 3189502.

6.9.03

Saudades de Fernando Henrique



Não, não é nem a recessão. As causas da recessão nunca são certas, mesmo quando estamos armados da melhor teoria econômica. Ainda sou dos que opinam que o governo anda improvisando na condução da quimioterapia da estabilização, mas não há heterodoxia completamente equivocada. Sim, a vulnerabilidade externa é um problema; sim, todo programa de estabilização inflacionária implica em um choque recessivo de demanda; sim, improvisou-se na combinação explosiva de política fiscal expansiva e tributação para tapar os gastos que a oposição não deixou que se cortasse - levando a dívida pública à alarmante situação em que está. A questão é que tudo isso são pedaços soltos de teoria sujeitos a uma interpretação leiga. E, sim, uma política recessiva pode ser razoável dadas certas circunstâncias, em que pese a carga negativa da palavra. Tudo é uma questão de custo-benefício. Valia a pena arcar com a vulnerabilidade externa, o crescimento baixo e o peso morto do Estado? Ah, isso é uma discussão tão grande...

Não, não é nem a recessão. É o ar que se respira.

São as pequenas coisas. É o populismo barato dos showzinhos de música - mesmo quando envolvem os maiores músicos deste país, como aconteceu no recente evento com Nelson Freire em prol do fomezero. É a exortação pernambucana a provar a macheza engravidando as que vierem pelo caminho. É o exílio da técnica e a promiscuidade clientelista que toma conta de cada aresta da máquina estatal. Não é apenas que a quimioterapia econômica esteja sendo levada adiante por médicos e engenheiros - são as indicações políticas para o INCA e a Câmara Técnica de Medicamentos, que estão provocando renúncias em massa. É o Conselhão de Desenvolvimento Econômico e Social, que quase virou parlamento paralelo eleito pelo presidente. É a personalização das relações políticas. É o presidente da Petrobrás anunciando a descoberta de gás em Santos para um grupo seleto de investidores. Sim, isso aconteceu. E Madam Roussef anda a minimizar esse inacreditável episódio de insider trading patrocinado pelo Estado.

Em suma, é a era Sarney de volta. E não se enganem, Sarney é a grande inspiração de Lula em quase tudo, das câmaras setoriais ao populismo em torno da palavra "social". É a desprofissionalização do Estado, a reversão de um processo que estava transformando em espírito a forma como se faz política chez nous.

Com toda a turbulência que marcou o período, Fernando Henrique deixou a nítida sensação de uma era em que se governou tentando infiltrar a técnica e a razão num espaço tão típicamente marcado pelo fisologismo mais barato e mais imoral. E nisso, fica a sensação de que FHC é maior do que o próprio PSDB, chegando a validar o projeto tucano pela força de seu próprio mito. Fico com a sensação de que o apoio explícito de FHC a José Serra teria mudado muita coisa.

Muito se regurgia sobre a força de Lula, o Sarney Reloaded, como líder carismático, e acho que se subestima a força de FHC. Adolescente, eu fui de esquerda - freqüentemente da marca mais radical, sem que nunca tenha chegado a mim o apelo de Lula ou a crítica fácil a FHC. No máximo, cometiam-se erros de cálculo, nas privatizações e na abertura comerical - que, na minha imaturidade eram o mal encarnado - sem que isso significasse que FHC não fosse o rei-filósofo que terminaria por fazer o que fosse melhor dadas as circunstâncias. Talvez o erro de FHC tenha sido ser sutil, sofisticado. Talvez a sociologia e o piano só façam falta a nós, pobres adeptos deste hedonismo intelectual vagamente proustiano.

Talvez os candidatos a presidente pudessem ser submetidos a um exame de piano antes de serem validados pelo TSE.

Tenho saudades do professor Cardoso toda vez que Luís Inácio Sarney Reloaded da Silva abre a boca para dizer que "nunca antes neste país" se fez alguma coisa. Tenho saudades do professor Cardoso quase o tempo inteiro.

2.9.03

O mundo vai ser tomado pelas baratas. Merde.