Anacoluto: caffeine for the mind, pizza for the body, sushi for the soul.

"We're not, as some people maintain, obsessed with pop culture so much as we're obsessed with its possibilities for stratification and dateability." (Thurston Moore)

31.3.04

Sabe quando, na noite de ano novo, os fogos de artifício precipitam a chuva?

Aparentemente, o fato de eu não ter recebido um email precipitou uma turn of events que, embora inevitável, não tinha data pra acontecer.

Enfim. Se eu tivesse tentado fazer isso pessoalmente, acabaria reagindo emocionalmente e me desculpando por coisas que eu não fiz. De algum forma, eu precisava ser frio. E embora a Ralissa possa estar algo emputecida agora, ninguém saiu ferido, não há conflito e/ou partido a ser tomado, e talvez o Glenn Branca venha a vender alguns discos a mais.

Um outro questionamento possível é a necessidade de tornar isso público. E, sim, a coisa acabou indo mais para o lado pessoal do que eu queria - eu tinha planejado falar sobre mudanças, e este caso era apenas uma parte da mudança - mas eu tinha sono, algumas emoções negativas, e nenhuma vontade de tornar isto menos difícil.

Enfim. Eu devo desculpas aos leitores regulares do Anacoluto, que estão aqui para me ler falando mal do Lula e da MPB, e ao Cláudio, que estava mais ligado à Ralissa do que eu tinha pensado.

Ah, e Jugovic - vá à merda, meu filho.

28.3.04

Uma carta aberta de despedida

Ralissa, não sei que merda houve com você. Mas eu sabia que isso tinha que acontecer alguma hora, e talvez seja bom que tenha acontecido agora. Talvez seja o símbolo de algumas mudanças que têm que acontecer agora, e que circulam em torno do fim do meu tempo livre, agora que estou muitocupado no trabalhestágio.

No fundo, sempre tivemos projetos de vida completamente incompatíveis, visto que não estou disposto a vender a minha alma por dois pontos na prova do Tinoco, e não sei por que quis contar você na lista de pessoas que foram importantes em alguma época. Uma das coisas mais assustadoras para um INTP é ser confrontado com a evidência de que agiu de forma irracional, mas fica o consolo de que isso nunca foi, na verdade, uma traição de princípios.

Mas você marca uma época, e na verdade acho que é dessa época que estou me despedindo. Você não é o símbolo mais adequado para essa época, mas é uma coincidência cronológica feliz. Eu acabo de ler o seu post no Tostando M., e na verdade, sinto-me feliz de ter tido um sonho, e ter ido além do razoável por ele.

O mundo não é mágico, as coisas não caem no lugar sozinhas, mas ainda podem ser perseguidos trade-offs perfeitamente razoáveis, que não representam uma traição de princípios. Em um universo quase aleatório, ainda existem certas combinações, e a natureza para ser comandada, deve ser obedecida.

Enfim. Eu espero que você tenha uma ótima vida, que cace muitas perdizes e que ouça mais Glenn Branca e menos Simon & Garfunkel. Você não quer ter uma crise existencial de proporções amazônicas aos 35 anos, e por isso é bom que você equilibre um pouco esse seu pragmatismo como estrutura com um pouco de celebração do caos em estado puro.

Ah, não é tão triste quanto parece. People don't live or die, people just flow.

22.3.04

Les mots

Frase da Casa Branca sobre o assassinato do líder do Hamas:

We are deeply troubled by Israel's assassination of Hamas leader Sheikh Ahmed Yassin

Interpretação do Jornal Nacional:

A Casa Branca não condenou o assassinato, e grupos palestinos dizem que a vingança deve ser contra os americanos, não contra Israel

Hmmm.

19.3.04

Boas notícias para o presidente Lula

O desemprego caiu.

Diego Navarro saiu das estatísticas do desemprego, e vai trabalhestagiar no IPEA.

16.3.04

Mais formas como Dubya Bush pode acabar com o grande capitalismo americano

É realmente triste quando o americano comum começa a se preocupar se o governo chinês vai impedir a Microsoft de integrar a BIOS ao Windows, impedindo - ou dificultando muito seriamente - a instalação de qualquer outro sistema operacional.

Informação mais densa pode ser lida aqui.

Sim, há apenas alguns anos, na era Clinton, estávamos discutindo seriamente se o predomínio da Microsoft era daninho à concorrência, mesmo em algo de relativa pouca importância como o mercado de browsers web.

Tem horas que eu acho que é Dubya Bush que está metido na grande conspiração comuno-totalitária.

15.3.04

Econometria de orelhada

Qual destas regressões aproxima melhor os dados?




14.3.04

O Incrível Caso de Dmitry Sklyarov - ou, porque Dubya Bush pode ser letal para o futuro do grande capitalismo americano.

Um resumo, cortesia da EFF, uma campanha a favor do homem, uma explicação (um tanto panfletária, mas instrutiva) sobre o tal do DMCA, e a campanha da EFF sobre o assunto.

12.3.04

If

Não costumo gostar de blogues cortar-colar, mas todo dia conheço uma nova pessoa que não sabe que a verdade não vem dos outros, do pensamento dos outros e do julgamento dos outros.

Los jóvenes de hoy en dia não cresceram lendo grandes poemas morais. É pena. Sou uma pessoa frágil, e é surpreendente que eu tenha mais estrutura, mais valores e mais verdade emergindo do meu espírito que quase todo mundo que conheço.


If you can keep your head when all about you
Are losing theirs and blaming it on you;
If you can trust yourself when all men doubt you,
But make allowance for their doubting too;
If you can wait and not be tired by waiting,
Or, being lied about, don't deal in lies,
Or, being hated, don't give way to hating,
And yet don't look too good, nor talk too wise;


If you can dream - and not make dreams your master;
If you can think - and not make thoughts your aim;
If you can meet with triumph and disaster
And treat those two imposters just the same;
If you can bear to hear the truth you've spoken
Twisted by knaves to make a trap for fools,
Or watch the things you gave your life to broken,
And stoop and build 'em up with wornout tools;


If you can make one heap of all your winnings
And risk it on one turn of pitch-and-toss,
And lose, and start again at your beginnings
And never breath a word about your loss;
If you can force your heart and nerve and sinew
To serve your turn long after they are gone,
And so hold on when there is nothing in you
Except the Will which says to them: "Hold on";


If you can talk with crowds and keep your virtue,
Or walk with kings - nor lose the common touch;
If neither foes nor loving friends can hurt you;
If all men count with you, but none too much;
If you can fill the unforgiving minute
With sixty seconds' worth of distance run -
Yours is the Earth and everything that's in it,
And - which is more - you'll be a Man my son

Rudyard Kipling, "If".

8.3.04



O Steven Wright - um INTP entre os INTP's - freqüentemente conta uma história supostamente verídica de como, por volta dos oito anos, teria ido se queixar a uma professora no final da aula.

"I don't get it", dizia ele. A professora, provavelmente uma dessas moças prestativas mas essencialmente clueless em relação às nervuras do real - não muito diferente de D. Ottalice - respondeu algo do tipo "O que, precisamente, você não entende?"

"What, exactly, don't you get?". Apontando para a rua, para as pessoas, o jovem Steven Wright responde:

"Just in general. I don't get it."



Este é um mundo realmente esquisito, mesmo para pessoas inerentemente melhor adaptadas a ele, como a Ralissa. Em recente ensaio no Tostando M., ela discorre de modo meio amorfo sobre tipos de amizade.

A verdade é que eu não entendi muita coisa, e acabei deixando um comentário que em linhas gerais eu conhecia dois tipos de pessoas - aquelas de que gosto, e aquelas que são como vegetação com pernas e bocas, uma espécie ambulante da Grande Planta do filme "Little Shop of Horrors".

Eu sempre fui bastante positivo em relação a não trabalhar com categorias confusas, e usar de modo naïf as idéias dicotômicas de gostar e não gostar. E isso pode ser muito problemático, porque as relações que as pessoas estabelecem acontecem dentro de um espectro muito denso, e acaba que eu não consigo estabelecer uma diferença entre a Aninha Rebel, que me procura quando ela está deprimida, e a Ralissa, que me procura quando eu estou deprimido.

Pareceria que eu tenho muitos amigos. No total devem ser umas quinze pessoas, mas são pessoas tão ricas, e tão diferentes, que fica a sensação de que são muito mais.

Outro dia, na pressa de encontrar uma moldura teórica que fizesse sentido e me permitisse fugir de uma conversa mais emocional, defini "amizade" como uma "cooperativa de seguro existencial". E é verdade que você começa a gostar das pessoas por alguma razão específica - o Cláudio, porque ele me relembra do que posso ser, o Caio, porque ele me lembra que se der tudo errado, não será uma catástrofe digna de suicídio ritual japonês, o Yie Chen, porque me lembra de que há pessoas como eu perambulando pelo mundo, a Ralissa, porque ela me lembra que é ok ser uma pessoa realmente estranha, o Bernardo, porque ele me faz ter certeza que é possível ir até o topo tendo as melhores intenções - e inclusive a Aninha Rebel - porque, quando ela aparece, me relembra de que a minha angústia não é única, e que everybody hurts.

Conversar com essas pessoas (às vezes simplesmente estar com essas pessoas) sempre aliviou o mal-estar essencial ao morar em um mundo que não é o seu mundo, mas é um mundo construído espontânea e histericamente por e para ESFJs espontâneos e histéricos.

Claro, por pura lógica, o mero fato de saber que essas pessoas existem seria o suficente para lidar com o mal-estar. O estranho é que mesmo para além do efeito terapêutico sobre a minha inadaptação fundamental, eu continuo gostando delas. O mundo é tão mais rico com elas dentro.

2.3.04

Anima

Para entrar no clima do curso de Filosofia Medieval II (é uma looonga história...), estou ouvindo música sacra.

Ontem foi um dia de obras para órgão de Bach. Hoje, parti parti para o Stabat Mater de Giovanni Pergolese, nas vozes de Mirella Freni e Terenza Berganza, acompanhadas pela orquestra "Scarlatti" de Nápoles regida por Ettore Gracis.

Devo ficar durante algum tempo no Stabat Mater - uma obra surpreendentemente rica - mas quando conseguir sair daqui, partirei para o Réquiem de Fauré.

Contam os cronistas da vida e milagres de Diego Navarro que durante sua gestação, ele assistia aos ensaios do Réquiem de Fauré, devidamente embutido no ventre da mezzo-soprano e mamãe. Mas não creio que tenha voltado a ouvir essa peça em especifico depois de nascer.

Os anacolutenses ficarão informados das segundas impressões de Diego Navarro, aprendiz de feiticeiro y caballero del reino por la gracia de Dios.