Anacoluto: caffeine for the mind, pizza for the body, sushi for the soul.

"We're not, as some people maintain, obsessed with pop culture so much as we're obsessed with its possibilities for stratification and dateability." (Thurston Moore)

30.7.03

Anticomunista, eu?


(Ei, meninos. O link vale; só me mudem para a seção de "blogs".)

26.7.03

A quantidade de comentários que são deixados é completamente incompatível com as estatísticas do Nedstat.

Ei. Pessoas. Deixem comentários.

23.7.03

This is revolution

Muitas das disciplinas da soft-science que surgiu em torno da desconstrução e da psicanálise no século passado são jogos sem fim. O próprio relativismo é um jogo sem fim, fato apontado por gerações de cínicos: afinal, mesmo a proposição "tudo é relativo" deveria ser relativa, certo?

A pragmática - subdisciplina da lingüística - pode ser um jogo-sem-fim de conseqüências interessantes. O exemplo clássico de análise pragmática de uma fala é o "eu te amo". Aparentemente, para os lingüistas da pragmática, uma afirmação como essa traz, implícita, uma indagação acerca da recíproca: você diz "eu te amo" para saber se é correspondido.

Nessa linha de análise, o que está incluído no pacote quando eu resolvo fazer uma defesa do ethos do substância-acima-de-estilo?

Eu consigo ver duas coisas. A primeira é uma analogia tola. A forma de apresentar o problema ajuda, dado o nosso centenário treinamento para a indução a qualquer custo: estilo frilly, substância frilly. A outra é uma dicotomia. Nem sempre o estilo sabotará a substância; faz parte do rol de utilidades do estilo a função de mimetizar o efeito de uma substância sólida e qualitativa.

Nesse caso, o discurso da substância-acima-do-estilo se adaptará: um estilo adequado será um sucedâneo de substância mais fácil de obter, mas de muito menor qualidade. Desta hierarquia, emerge o idealismo quixotesco: apesar de ser mais fácil, opto por priorizar a substância. Do quixotesco, surge o heroísmo: priorizarei a substância desprezando o estilo. E daqui, a pura arrogância: a minha substância é tão boa que não preciso de um estilo atraente.

Na verdade, eu mudei o template porque queria mais espaço. Fiquei sériamente tentado a sair com um discurso de substância-acima-de-estilo que reaproveitasse a contingência ruim de um template feito pela metade, que será acertado aos poucos e a transformasse em ethos. Por quanto tempo eu conseguiria levar adiante uma farsa assim?

Não vale a pena. Os meus leitores são mais espertos que isso.

21.7.03

Tom Kriss



17.7.03

Baixo

Estou com um baixo elétrico emprestado. Vocês sabiam que o braço do baixo tem duas oitavas?

A minha velha teoria de que qualquer guitarrista toca baixo sobreviveu. O instrumento tem algumas dificuldades mecânicas (o braço é maior, as cordas mais afastadas), mas a afinação é a mesma das quatro cordas mais graves da guitarra, e as cordas oferecem muito mais sustain mesmo sem nenhum tipo de distorção - o que mais que compensa a falta de uma palhetada alternada na mão direita.

Algo inteiramente distinto é ter idéias de baixo. O guitarrista de rock usualmente é treinado para preencher espaço: o tema recorrente nos grandes solistas de guitarra é como a intensidade nunca cai. Por outro lado, o baixo faz das notas que não está tocando sua matéria-prima básica. Requer alguma sutileza, algum feeling. Requer também uma certa sintonia fina com a bateria.

Mas pelo geral, é um instrumento mais fácil. Enquanto eu talvez nunca seja um bom guitarrista, posso aprender a ser um ótimo baixista em mais uns dois meses. Vale a pena? A tentação é grande - afinal, as exigências que se fazem de um guitarrista são irracionalmente mais altas do que as sobre qualquer outro instrumentista. Houve um Jaco Pastorius (roughly, um McLaughlin do baixo), mas não houve Hendrix, Howe, Van Halen, Fripp, Holdsworth, Buckethead. E puxa, há guitarristas impressionantes em cada esquina.

Um mundo menos competitivo. É tentador. Talvez, dadas circunstâncias apenas um pouco diferentes, eu tivesse sido um matemático baixista, e não um economista guitarrista. Em todo caso, continuo à cata de um baterista.

11.7.03

Fênix

Anacoluto o que gosto, e gosto do que anacoluto.

Em certo ponto de elevada paranóia, senti que o Anacoluto podia estar se tornando uma liability, o registro indelével de um pensamento polêmico, políticamente incorreto e um tanto inflexível. Tentei fazer presente a natureza transitória e contingente do que faço. No fim, achei que contribuía mais falando de coisas sérias. E comecei o Livros, que nunca realmente decolou. Leio pelo menos um livro por semana como parte da minha dieta civilizatória, mas resenhar é difícil, e o calendário me engoliu como uma baleia engole um boneco de madeira.

Escrever é um hábito; deixar o Anacoluto de lado por uns tempos produziu a rápida ferrugem por que passa um músico quando deixa o instrumento. Os posts são sempre escritos de uma vez só, de forma muito rápida e sem olhar para trás, e sinto agora que o texto que sai dos meus dedos muito mais pobre e clumsy do que ele já chegou a sair em bons tempos. Não ajuda que os principais temas de atualidade tenham se tornado significativamente mais complexos do que os que aconteciam em março/abril.

Mas preciso escrever. Talvez a solução seja passar ao largo da política, o que me conferirá o duplo alívio da rarefação de opiniões potencialmente comprometedoras e do afastamento da espada de Dâmocles do simplismo pasteleiro. Sei que sou qualquer coisa parecida com um liberal, e não acredito na solução revolucionária; acredito em contratos firmados com consentimento informado de duas partes. Acredito na viabilidade do capitalismo como modelo de desenvolvimento justo e proporcionador de um ambiente excitante de realização pessoal. E por último, talvez ultrapassando um pouco as fronteiras usuais do blogue, acredito que em algum lugar há alguém - que ainda vou conhecer - que vai ter o encaixe certo do Lego.

Acho que é mais ou menos isso. O Livros continuará vivo. Escreverei mais. Tenho poucas certezas. Gosto cada vez mais de economia e de finanças, e tenho minha cota de habilidade conceitual abstrata que podem ser bem canalizadas. Gosto de música como há quem goste de praia, cerveja e pornografia soft. E quero escrever, escrever, escrever, escrever.

7.7.03

Alvíssaras!

O Anacoluto está de volta. Agora com mais brilhância, crocância e refrescância.