Anacoluto: caffeine for the mind, pizza for the body, sushi for the soul.

"We're not, as some people maintain, obsessed with pop culture so much as we're obsessed with its possibilities for stratification and dateability." (Thurston Moore)

29.8.03

Conjux


É do tipo de coisa que você detesta à primeira vista, antes mesmo de ouvir. Não tem como funcionar: Tom Morello e Zack de la Rocha faziam hip-hop político, pontuado por guitarras, enquanto que Chris Cornell e amigos faziam música psicodélica retrô. Substituir a paranóia e o vitríolo do RATM pelo tom whiny e introspectivo de Cornell é ainda uma idéia menos inadequada do que substituir a relativa expertise de Matt Cameron, Ben Shepherd e Kim Thayill pelas incríveis palhaçadas de Tom Morello, que parece achar que repetir uma única nota por vários minutos, usando pedais de efeitos, é o mesmo que tocar um solo.

O pior é que o que os Audioslave fazem é terrívelmente reacionário - especialmente no contraste com os beats hipervelozes para uma época hiperveloz das coisas da Weltherrschaft, que lançou o disco sobre a guerra que comentei no último post. O clipe de "Show me how to live" explora a surradíssima fórmula da road freedom como um veterano marine, ao ver a oposição à guerra do Vietnã, exploraria as imagens patrióticas da bandeira, do cachorro-quente e do beisebol. Talvez involuntariamente, Chris Cornell assume o papel de um Pat Boone na era da dromologia de Paul Virilio, o que dá a todo o disco um sabor de ciclamato - apesar de todas as boas intenções, repulsivo.

Mas como não gostar de algo cantado pelo Chris Cornell?

28.8.03

Às vezes, as pessoas fazem as coisas mais fantásticas com os objetivos mais tolos. Este EP, disponível para download gratuito legal, é um grande exemplo.

Não é nem um drill-and-bass esperto como as coisas do Squarepusher; é uma impressionante explosão de energia que dura trinta minutos. Vale a pena.

27.8.03

Real World

As trajetórias simétricas e equivalentes de Jewel e Alanis são um exposé involuntário de como funciona a indústria musical. E ambas fazem o seu trabalho muito bem. Não ouvi o álbum de disco diva que Alanis tenta esconder para proteger a sua retórica de "tenha cabelo de cavalo e ande nua por cidades geladas", mas a priori "You oughta know" ou "Head over heels" são tão convincentes quanto qualquer coisa da Cat Power ou da Patti Smith. A Jewel me surpreendeu. Talvez haja uma mudança forte de rumos em relação ao autenticismo que dominou o rock (em oposição à eletrônica, muito mais esperta) na primeira metade dos anos 90, ou talvez o mercado de cantoras sinceras e frágeis esteja superlotado ao ponto de se tornar notória a diferença entre cantoras sinceras e Madonnas bem emabaladas.

O crivo de Eratóstenes são os solos de guitarra. Se a música tiver mais tempo de refrão do que de solos, laisse tomber.

20.8.03

Uma pequena paráfrase


I don't know just where I'm going
But I'm gonna try for the kingdom, if I can
'Cause it makes me feel like I'm a man
When I put black powder in hot milk
And I'll tell ya, things aren't quite the same
When I'm rushing on my run
And I feel just like Jesus' son
And I guess that I just don't know
And I guess that I just don't know
I have made the big decision
I'm gonna try to speed up my life
'Cause when the blood begins to flow
When it shoots up the dropper's neck
When I'm closing in on death
And you can't help me now, you guys
And all you differentials with all your limits
You can all go take a walk
And I guess that I just don't know
And I guess that I just don't know
I wish that I was born a thousand years ago
I wish that I'd sail the darkened seas
On a great big clipper ship
Going from this land here to that
In a sailor's suit and cap
Away from the big city
Where a man can not be free
Of all of the evils of this town
And of himself, and those around
Oh, and I guess that I just don't know
Oh, and I guess that I just don't know

Caffeine
be the death of me
Caffeine
it's my wife
and it's my life

Because a mainer to my brain
Leads to a center in my head
And then I'm better off and dead
Because when the smack begins to flow
I really don't care anymore
About all the health freaks in this town
And all the physicians makin' crazy sounds
And everybody puttin' everybody else down
And all the scrap paper piled up in mounds
'Cause when the smack begins to flow
Then I really don't care anymore
Ah, when the caffeine is in my blood
And that blood is in my head
Then thank God that I'm as good as dead
Then thank your God that I'm not aware
And thank God that I just don't care
And I guess I just don't know
And I guess I just don't know

13.8.03

Browser

Troquei o MSIE, que andava aprontando, pelo Mozilla Firebird.

Lembram da guerra dos browsers? [Ok, nem todo mundo era um geek viciado em internet em 1997]. Quer dizer, depois de certo ponto, a Netscape tinha se tornado um mamute.

Uma das últimas coisas que o Marc Andressen fez como dono da Netscape, antes da venda para a AOL, foi liberal o código fonte do Navigator.

Lembro ainda de baixar e compilar uma das primeiras versões do Mozilla - originalmente o nome extra-oficial do Navigator, mas que se tornaria o nome oficial do novo browser - mas a coisa simplesmente não funcionava direito back then.

O Mozilla continua existindo. Dizem que funciona, e que está virando um mamute. Mas eles fizeram uma versão menor, redimensionável - o Firebird.

O conceito é bastante esperto: em vez de afogar o browser em recursos, você baixa uma instalação padrão bare-bones e vai instalando os recursos adicionais que forem interessantes.

E sim, eles conseguiram trazer alguns conceitos novos à cansada arena dos browsers. Vale a pena experimentar.

10.8.03

De ratos e homens

Eu não sei qual é a surpresa em ver Roberto Marinho-latria que tomou conta da imprensa. Não é somente o risco moral de não bajular o chefe; há também um forte elemento de gratidão por parte de muita gente que teve o seu big break na corporação Globo.

E apesar do perpétuo fluxo de acusações perturbadoras sobre a gênese e ascensão da corporação Globo - e do inegável caráter cartelizador de seu monopólio vertical sobre o audiovisual de ficção - Roberto Marinho foi um empreendedor. E este país tem uma carência terrível de empreendedores; as pessoas querem emprego, de preferência no governo, com estabilidade.

É, afinal, o homem que fundou uma das poucas grandes empresas que este país tem - aos 60 anos - e que emprega artistas. É por causa do salário das novelas da Globo que atores podem fazer "Rei Lear" ou "Hamlet".

E no fundo, eu acho que ele acumulou tanto poder em grande parte por falta de concorrência em determinado ponto crítico da construção de seu império. É certo que nenhuma sociedade capitalista desenvolvida deveria ter os entraves à livre concorrência que a Globo representa. Mas this is what you want, this is what you get.

As pessoas não querem emprego para todos, sem ter que correr riscos?