Não, não tenho escrito muito, mesmo em face às pressõezinhas dos regulars do Anacoluto. Estou no meio de um daqueles declives escorregadios intelectuais que algumas pessoas conhecem, em que a sua mente borbulha com idéias basicamente amorfas, feitas de pequenos átomos lógicos que se chocam, se destróem, se fundem, se ligam, vão organizando mapas. Eu suponho que isto me aconteceu quando aprendi alguns truques de representação "topológica" de relações estruturadas entre conceitos que permitem configurações inteiramente novas ao meu velho modelo premissas-paradigmas-algoritmos-funções. Estive estudando grafos, topologia de circuitos digitais (de quantas formas você consegue representar um XOR em quatro camadas ou menos de ANDs, ORs e NOTs?) e de redes neurais.
Já vi este cenário antes. Muitas das coisas que descobri no tempo em que pesquisava relações gerais entre sistemas de regras (i.e. paradigmas) - digamos, para usar um exemplo matemático, a transformação de uma função em outra - permanecem no limbo do meu cérebro, incomunicáveis. A desculpa oficial é que o tempo de maturação dessas coisinhas (que não se medem em anos, mas em pulsos do errático ritmo do pensamento) cria algo como uma "tradição de pesquisa" que me é completamente interna, e é tão estranha para uma pessoa aleatória qualquer quanto o temo "modelo por cointegração" para um ator de filmes pornôs. E em todo caso, ainda consigo lançar mão de uma imagem compreensivel como o de uma transformação em um espaço de funções porque conheço alguma matemática que serve de exemplo "concreto" para o tipo de coisa em que penso para sistemas mais generalizados de pensamento.
Preciso, com alguma urgência, aprender a drill do exercício organizado do pensamento. Faltam-me exemplos "concretos" para esta forma mais geral (e o modelo premissas-paradigmas-algoritmos-funções cabe aqui como caso especial) de ligar conceitos posto que não tenho conhecimento "real" de coisas como teoria dos grafos "de verdade", topologia de redes, mapas auto-organizáveis. Por um lado, tenho o impulso a procurar esses tópicos - posto que fornecem exemplos concretos e muito bem-sucedidos do que estou pensando, mas por outro, talvez devesse dar um halt a toda essa atividade desorganizada e possivelmente improdutiva (se eu nunca conseguir escrever em equações como o sistema de conclusões racionais de, digamos, a economia austríaca, mina as bases intelectuais de todo o aparelho construtor das próprias conclusões racionais e implode, não terá servido de nada estar montando o modelo geral em que esse tipo de processo acontece).
Talvez a famigerada teoria das categorias me fizesse pensar de forma organizada em coisas muito abstratas e muito gerais. Mas o problema é, se estímulos externos (como o café fervente caindo nos meus pés descalços, ou uma menina de roxo propondo uma trégua) não conseguem impor uma pausa de alguns minutos a essa coisa que me consome toda a minha energia, como conseguiria um sistema árido, difícil de absorver, que não promete nem aplicações nem generalidade?
Ah, Mingus, dá um empurrãozinho a este pobre vulcãozinho-de-cerâmica abstrato.